segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Noticiário: mês 11

- Saiu esta entrevista com os membros do Clube Literário Tamboril, daqui de Pirapora. Na ocasião, apareço e declamo um poema de “Escorre”. Não deixem de ver, a edição está sensível e bonita.

- Fernanda Xavier fez esta colagem com outro poema de “Escorre”. Ela diz por mim tudo que calo, propositalmente. Grato, Fê.



 - Fui à Balada Literária em São Paulo. Me perdi, suei um cado, mas descobri que escritores, além de vaidosos, também podem ser gentis e abraçáveis. Grato pelos abraços.

Inté.


Foto: Marina Bitten


Dom Quixote (também) hesita

“E considerando eu isto bem, estou capaz de afirmar que me pesa no íntimo da alma de haver abraçado este exercício de cavaleiro andante em tempos tão detestáveis como estes em que vivemos agora; porque, ainda que eu sou daqueles a quem não há perigo que meta medo, contudo muitas vezes me sinto receoso de que a pólvora e o chumbo me roubem a ocasião de tornar-me famoso e conhecido pelo valor do meu braço e pelos fios da minha boa espada em todos os ângulos da terra; (...)

Em todos os que o escutavam sobreveio grande pena, vendo que um homem, ao parecer, dotado de muita inteligência e que sabia discorrer com tanto acerto nas cousas de que tratava, perdia completamente a tramontana logo que falava sobre a negregada e desgraçadíssima tolice da cavalaria andante.”


(Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha, 1605)



terça-feira, 24 de novembro de 2015

Chão

"O filho mais velho voltou para casa, mãe já não estava. Os filhos mais novos cuidavam de tudo: limpavam, cozinhavam, criavam o rumo do resto. O filho mais velho entrou pela casa com olhos assustados – susto inadmitido –, olhos assustados de quem entra num lugar novo, onde nunca tinha pisado. Parecia criança em loja de brinquedo, mas triste. Os filhos mais novos trataram-no com naturalidade, era o combinado tácito, sem acordo verbal ou escrito. Todos entendiam que ele, distante desde que não havia mais mãe, carecia deste novo pisar na velha casa: todos agora precisam reconhecer-se."

(clique na ilustração abaixo para continuar lendo a crônica que escrevi para O salto. a ilustra é do Vinícius Ribeiro. e o texto é sobre luto engasgado. de novo.)


domingo, 15 de novembro de 2015

"Ogunhê Ogum
Guerreiro Deus
do conflito

Por uma poética
política da
guerra

Como única
conexão possível
entre

os anjos caídos
de Babel

Laroyê Exu
Mensageiro Deus
dos interstícios

Do caos corpo
campo de batalha
que sou"

- Iago Passos


Fotografia: Aparício Mansur

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Leitores de jornais

"O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho. (...)

A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.

Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres. (...)

Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.

Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil."

(Trechos do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald de Andrade, 1924)


(Tarsila do Amaral, Morro da favela, 1924)