quarta-feira, 19 de novembro de 2014

L. e o canal que se expande

Era um castelo medieval onde funcionava um colégio interno. Eu estava lá, junto com uma turma, visitando, ficaríamos o dia inteiro. Havia água, competições, não lembro ao certo. Em dado momento, peguei no colo um amigo, R., que estava em forma de bebê, mas totalmente redondo, seu rosto estava esticado. Peguei-o no colo e caminhei com ele por um grande corredor, ninando-o. Atrás de mim, notei, estava vindo devagar um rapaz muito bonito, que conheço pessoalmente, L.. Senti interesse sexual por ele. E, pelo ritmo dos passos que dava, lentos como os meus, cogitei também o seu interesse. Até que L. me alcançou, caminhou ao meu lado. Por já o conhecer, puxei conversa, perguntando se estava tudo bem. L. trabalhava no colégio, vestia um macacão cinza todo sujo por fuligem, como se trabalhasse com carvão. Comentei que o colégio estava bastante movimentado com a visita. E ele me disse que não gostava quando vinham visitas, porque se apegava às pessoas e elas iam embora rapidamente. L. estava muito sério e pouco me olhava nos olhos.

Caminhamos, até que ele entrou numa grande sala sem porta, separada do corredor apenas por um grande portal. Entrei também. Na sala, de paredes salmão, havia uma varanda. Além disso, passando por dentro da sala grande, chegávamos a uma sala de tamanho médio que, por sua vez, conduzia a uma terceira, de tamanho menor. Debruçamo-nos na varanda, olhamos a mata lá fora e conversamos sobre algum assunto que não me lembro. Ele continuava demasiado sério e sem me olhar no rosto. No entanto, nesta altura, eu já havia notado seu interesse sexual por mim. Ambos estávamos interessados um no outro. De repente, sem ser explícito, ele indicou que fôssemos para um lugar mais reservado. Da sala grande, passamos pela sala intermediária até chegarmos à sala menor. Havia, na parede lateral, um pequeno orifício, como um cano de espessura mínima, diâmetro um pouco maior que o de uma caneta. Ele me indicou o local, o tal lugar mais reservado, e, me pedindo para segui-lo, entrou por esse pequeno cano, abrindo espaço com o próprio corpo, esticando-o, como as cobras se esticam ao engolirem grandes presas. De repente, sumiu. Por um instante, pensei sobre a possibilidade de acompanhá-lo. Não sabia aonde aquele canal me levaria, mas o meu interesse por aquele homem estava me movendo. Deixei R. numa estante da sala, fui ao quarto, peguei minhas coisas, enquanto me decidia, e voltei até o orifício. Por já haver transcorrido certo tempo, pensei que L. poderia estar impaciente me esperando, onde quer que estivesse. Olhei no celular e havia uma mensagem de voz dele, não ouvi. Resolvi entrar pelo caninho e encontrá-lo sem mais demoras.

Introduzi meu dedo no buraco e percebi que ele realmente se esticava, era feito de uma borracha muito elástica. Logo em seguida, introduzi minha mão direita, depois a mão esquerda, as duas mãos juntas, esticando-o. Enfiei meus dois braços, mas a borracha se rasgava e seria impossível penetrá-la. Retirei a parte rasgada, inseri meus dois braços novamente, depois minha cabeça, meu tronco, entrei. Dentro do espaço do caninho, havia uma sala de ginástica, uns colchonetes no chão. Comecei a fazer exercícios de alongamento, enquanto imaginava L. ali comigo, em contato corporal enquanto fazíamos exercícios juntos. Jogava-o para um lado, depois para outro. Nesse contato imaginado, ejaculei. Após isso, continuei o percurso pelo canal (não havia saído dele) e, na dificuldade em respirar e me movimentar, rastejando naquele espaço apertado, a imagem que via de dentro era a de um papel pardo amassado. Encontrei uma caixinha cheia de remédios. A instrução era de que eu precisava ingerir um pó dourado para não passar mal durante o percurso. Para medir a quantidade certa, teria que espalhar o pó por toda a minha mão esquerda e lambê-la. Mão dourada, lambi. Continuei o percurso até o fim, quando apareci, finalmente, num espaço verde, em declive, em paz, como a capa do novo disco do Sam Amidon.


Assim como na capa, havia pessoas interagindo com o espaço, em plena harmonia, integradas. Percebi que eu já havia estado naquele lugar antes. Logo, raciocinei que eu não precisaria do percurso através do orifício para chegar até lá, a realidade me encaminharia da mesma forma, se eu quisesse. Conhecia o caminho, inclusive. Duas primas chegaram de carro até o local, sentamos juntos numa mesa de concreto. Ficamos discutindo sobre se aquelas pessoas, que ali moravam, seriam comunistas. Perguntei a uma das primas se ela teria visto L., ela disse que sim, mas ele já havia partido. Tarde demais, pensei. Mas lembrei da mensagem de voz em meu telefone e a ouvi.

L., ao invés de perguntar onde eu estava, porque não havia ainda chegado, agradeceu pelo nosso encontro, disse que foi muito bom termos estado juntos e, pela primeira vez, senti entusiasmo em sua voz. 

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