segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Há telescópios em toda parte"





                Vasculhando a locadora de filmes em busca de algum que pudesse me dizer algo substancial e estivesse latejando de dor como eu, encontrei o belíssimo Fora do Mapa, dirigido por Campbell Scott, de 2003. 

                O filme se passa no deserto do Novo México, EUA, e trata da dor humana, esperança, nudez física e da alma e, sobretudo, da simplicidade. Conta a história de uma família: mãe descendente indígena, pai em profunda crise depressiva, o melhor amigo sempre presente, a filha de doze anos entendida das coisas e um fiscal do imposto de renda que se encanta com a beleza de tudo ali. Porque, sim, há beleza no deserto, nas lágrimas infindáveis do pai, na força quase selvagem da mãe e no horizonte, a “curva que separa o oceano do céu”, mesmo que esse oceano, no filme, seja composto de areia.

                Assim como o fiscal – que viera cobrar os impostos atrasados e acabou ficando com a família – encantou-se com toda essa beleza ingênua, é de se esperar que nós, espectadores, nos apaixonemos também. A família não tem TV, dinheiro, telefone; vive do que caça, planta e encontra no depósito de lixo. A casa possui, no lugar de vizinhos, poeira. E é nesse ambiente inóspito que floresce toda a poesia do filme.

                Os personagens e a secura do cenário são um só. A depressão do pai não possui motivo revelado, talvez porque não haja uma razão única, mas um montante delas, que de tantas, parece impossível nominá-las. As nossas dores são assim, acumuladas. E parece que todos no filme vivem a própria tristeza, talvez menos intensa como a do patriarca, mas latente ainda que calada. A mãe se vê na responsabilidade de cuidar de tudo enquanto o pai emudece; a filha está cansada da vida isolada e quer um contato exterior; o amigo já não sabe o que fazer para tirar o melhor amigo do buraco; o fiscal, agora membro da família, viu a mãe morta na infância. O diálogo entre este e o pai é bem contundente:

                “ – Já teve depressão? – o pai pergunta.

      – Eu nunca não tive. ” 

                Lindo.

   No entanto, apesar de toda a tristeza desértica, existe um barco “navegando” por lá. Apesar de toda a depressão presente, “há telescópios em toda parte”. E em momento nenhum, o espectador sente compaixão pela família, não há razão, pelo contrário, queremos o mesmo que eles. Pois “a vida é simples”, o filme avisa. E constatamos isso quando ele termina e seguimos vivendo, olhando a beleza de um sorriso sincero, sentindo o amor, energia liberada num afago materno, e a brisa fresca no final da tarde, depois de um longo dia quente.    
 

 
                         (Fora do mapa, Campbell Scott, 2003)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Férias


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Tempo de acompanhar maçãs nuas receberem o sopro envelhecedor do oxigênio: amarelas! Murchas! Mortas...

De despertar com marca de batom no rosto sem saber de quem é a boca, pois houve mais sono do que reciprocidade. 

Tempo de colecionar rolhas acumuladas.  

De receber cartões-postais dos amigos viajantes, solares, sem rolhas e batom no rosto, mas com carimbo no passaporte. 

Tempo de descansar gravatas e reanimar pantufas. 

De ócio perigoso, aceno criativo, revolução e preguiça, suicídio. 

Férias são domingo esticado.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sem carnaval por enquanto


Não sinto mais a batucada se aproximar, Marisa. That´s no fine. 
 

 (Carnavália - Marisa Monte)